PAULA MOURÃO*, RAQUEL MATEUS PALMA**
RESUMO:
Objectivos: revisão da metodologia para efectuar o diagnóstico da amigdalofaringite aguda estreptocócica (AFAE) face ao quadro clínico de infecção aguda da orofaringe; revisão das recomendações terapêuticas para aquela doença infecciosa.
Métodos: pesquisa, medline, online e manual, dos artigos publicados nas revistas médicas nos últimos cinco anos. Descritores utilizados: sore throat, pharyngitis, tonsillitis, management, diagnosis, treatment, antibiotics.
Conclusões: As características clínicas utilizadas isoladamente não permitem distinguir de forma adequada a infecção estreptocócica das causadas por outros agentes. Os scores clínicos aumentam a acuidade diagnóstica, ao identificar o grupo de doentes com baixo risco de infecção e ao permitir o aumento da sensibilidade diagnóstica nas crianças, grupo onde a febre reumática é mais frequente. A maioria dos autores defende que, antes de iniciar antibiótico, se deve testar a presença de estreptococos do grupo A na orofaringe, através de exame cultural ou de teste rápido para detecção do antigénio. Admitem a possibilidade de iniciar antibioterapia empiricamente quando for obtida a pontuação máxima no score clínico. A penicilina G benzatínica, em dose única intramuscular, continua a ser o tratamento de eleição da AFAE. Nos alérgicos, e só nesses, usar a eritromicina. Alternativas ao tratamento de primeira linha, sobretudo na AFAE recor- rente, poderão ser (por ordem decrescente de preferência): amoxicilina (isolada ou em associação com ácido clavulânico), cefalosporinas de primeira geração e novos macrólidos.
…
4. Exames complementares de diagnóstico (ECD)
São muitos os autores que defendem que os doentes com amigdalofaringite aguda devem ser testados para a presença de EBHA na orofaringe, através de exame cultural ou teste rápido para detecção do antigénio do estreptococo.
Apesar da prescrição antibiótica poder ser reduzida se houver maior utilização de exames complementares de diagnóstico, tem havido uma resistência a esta estratégia por parte dos médicos.
O facto destes exames não distinguirem o estado de portador de um caso de infecção aguda poderá ser uma das razões; na verdade, um achado positivo no exame cultural ou num teste rápido não permite diferenciar entre a infecção estreptocócica activa ou o estado de portador assintomático com faringite viral intercorrente, como foi demonstrado em vários estudos. Outro possível factor contribuinte para esta atitude é a não valorização do problema das resistências bacterianas.
a) Teste rápido para pesquisa
do antigénio estreptocócico do grupo A (Phadirect, como vulgar- mente é conhecido)
• confirma a presença de Ag (carbohidrato) do estreptococo grupo A no exsudado da orofaringe em minutos (cinco a 10 minutos),
• tem uma especificidade elevada (95%), (73-80%): um resultado positivo(+)é equivalente a um exame cultural positivo (deve ser iniciado antibiótico (AB) sem necessidade de mais confirmação),
• a sensibilidade varia entre 26- -30%, 80 e 90%, 58 a 96%, 65 a 75%: neste último estudo foi demonstrado que a sensibilidade deste teste é maior na presença de um «score clínico» mais elevado, ou seja, existe um valor adicional nos casos em que existe uma maior probabilidade de AFAE,
• os resultados negativos devem ser confirmados com exames culturais; no entanto, alguns autores dizem ser uma recomendação controversa, porque:
– o ganho na sensibilidade pode não se justificar pelo custo e inconveniência; não há grandes benefícios de resultados em áreas onde a incidência da febre reumática aguda é baixa,
– nos adultos (principalmente com apenas um ou dois parâmetros) parece ser seguro efectuar apenas terapêutica sintomática,
– nas crianças e adolescentes é prudente a confirmação por exame cultural especialmente num contexto de surto local,
– há uma técnica mais recente (imunoensaio óptico) que apresenta nalguns estudos uma sensibilidade semelhante à do exame cultural.
Revisão completa em: https://rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/9896